2 de novembro de 2011

Eu:

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Manoel de Barros

"Uso a palavra para compor meus silêncios.
 Não gosto das palavras
 fatigadas de informar,
 dou mais respeito
 às que vivem de barriga no chão
 tipo água, pedra, sapo.
 Entendo bem o sotaque das águas.
 Dou respeito às coisas desimportantes
 e aos seres desimportantes.
 Prezo insetos mais que aviões.
 Prezo a velocidade
 das tartarugas mais que a dos mísseis.
 Tenho em mim esse atraso de nascença.
 Eu fui aparelhado
 para gostar de passarinhos.
 Tenho abundância de ser feliz por isso.
 Meu quintal é maior do que o mundo.
 Sou um apanhador de desperdícios:
 Amo os restos
 como as boas moscas.
 Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
 Porque eu não sou da informática:
 Eu sou da invencionática.
 Só uso a palavra para compor meus silêncios."

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. O poeta que dá vida aos seres inanimados! O Zé Júnior me fez conhecer mais desse grande criador! Érica me deu de presente o livro "Memórias Inventadas"! Agora as coisas criam vidas e eu as vejo falar, andar, chorar..., eu me invento num outro mundo!!!

    Andrey Fernandes

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