O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS
Manoel de Barros
"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar,
dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água, pedra, sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios."
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ResponderExcluirO poeta que dá vida aos seres inanimados! O Zé Júnior me fez conhecer mais desse grande criador! Érica me deu de presente o livro "Memórias Inventadas"! Agora as coisas criam vidas e eu as vejo falar, andar, chorar..., eu me invento num outro mundo!!!
ResponderExcluirAndrey Fernandes