3 de janeiro de 2012

RESULTADO DE AQUARISMO IRRESPONSÁVEL!!!!!

Espécie invasora, peixe-leão está próxima do Brasil

3 de janeiro de 2012
by RevistaAquario

Entre os peixinhos exuberantes que vivem nos recifes, o peixe-leão vermelho (Pterois volitans) é um destaque com suas nadadeiras laterais e dorsais, listradas e coloridas. Nos anos 90 era uma atração, quase um troféu, entre aquaristas ocidentais. Grandes aquários abertos ao público exibiam esse personagem marinho deslumbrante.
Depois de um acidente, o lionfish (como também é conhecido) ganhou águas norte-americana. Deixou de ser uma beleza controlada para se tornar uma ameaça declarada. Foi logo classificado como espécie invasora, inimiga do equilíbrio ecológico pelo apetite voraz e por não ter predadores naturais.
A espécie invadiu o litoral leste dos Estados Unidos, desceu pela América Central, chegou à América do Sul e se aproxima do Brasil. Está na Venezuela e cada vez mais próximo. Em linha reta, 1.500 quilômetros separam a última avistagem de peixe-leão da Foz do Oiapoque, nosso extremo norte.
Professor da University of California Santa Cruz e curador de peixes da California Academy of Sciences em São Francisco, o biólogo Luiz Rocha afirma que o peixe-leão é uma espécie invasora particularmente ruim por causa de sua eficiência como predador. “O peixe-leão adota uma estratégia ‘de emboscada’, fica num canto camuflado e quando um peixe pequeno passa perto ele abocanha”.
Em sua área de ocorrência original (no encontro dos oceanos Índico e Pacífico), as presas do peixe-leão conhecem o modelo de ataque e sabem como evitá-lo. “Isso não ocorre no Caribe”, explica Luiz Rocha. A invasão do peixe-leão no Golfo do México e no Caribe teve seus efeitos apontados em estudos recentes, que revelam a diminuição significativa de peixes pequenos, onde o peixe-leão chegou. “Pelas características da espécie, podemos dizer que é inevitável sua chegada ao Brasil, mais cedo ou mais tarde”, supõe o pesquisador.

Invasão pode ocorrer em uma década
Um trabalho coordenado pelos professores Oscar Lasso-Alcalá, da Universidad Central de Venezuela, e Juan Posada, da Universidad Simón Bolívar faz o monitoramento dos registros do peixe-leão no Caribe. De acordo com suas previsões, não demorará muito para esses temerosos invasores chegarem aos nossos recifes de corais. “Se for para estimar um prazo”, arrisca o professor Luiz Rocha, “eu diria que em menos dez anos”.
O professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Jorge Luiz Silva Nunes concorda que a ameaça existe e adverte ela não é a única. “Há inúmeras espécies invasoras que têm merecido atenção, pois não ocorrem apenas danos ecológicos, mas eventos com gastos diretos na economia”, alerta.
Ele cita a introdução do mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), que bloqueia tubulações de hidrelétricas onerando a produção de energia. “Outros exemplos são pontuais como o coral-sol (Tubastraea spp.) que têm competido por espaço com espécies nativas de corais e o Omobranchus punctatus, encontrado em quase todas as poças de maré de praias urbanas da Ilha do Maranhão”.
A visão otimista de alguns debatedores aponta que a invasão do peixe-leão no litoral nordestino brasileiro poderia ser barrada por um acidente natural de grandes dimensões, a Foz do Amazonas. Essa visão, infelizmente, é minoritária entre pesquisadores. Jorge Luiz Silva Nunes afirma que esses animais podem ultrapassar a foz por baixo da sua influência. “Muitos peixes podem usar o fundo cheio de esponjas e outros organismos bentônicos para servirem de trampolim”, calcula o doutor em oceanografia radicado no Maranhão.

Histórico da invasão
O primeiro registro de um peixe-leão fora de um aquário ocorreu em 1992, em Key Biscayne, Miami. Osmar Júnior acompanha a invasão da espécie como biólogo especializado em vida marinha e como colunista de conservação em revistas de mergulho. Ele conta que em 2002, mais de 30 exemplares de peixe-leão foram identificados pelos pesquisadores da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) espalhados pela costa leste dos Estados Unidos (Flórida, Geórgia, Carolina do Norte e até Nova Jersey).
Também dois exemplares foram capturados na Ilha de Bermudas, a mais de mil quilômetros do continente. Atualmente, os peixes-leão são contados a centenas. “Submersíveis e ROVs, inclusive, estão encontrando a espécie em profundidades entre 80 a 100 metros, curiosamente uma faixa jamais registrada em sua localidade natural”, relata Osmar Luiz Júnior. Nos EUA, a quantidade se tornou abundante e chega a competir com badejos e garoupas nativas.

Mapas fazem a cronologia dos primeiros registros do peixe-leão na América do Norte e, depois, na América Central

Previsão de que a ocupação do peixes-leão seja irresistível e alcance as águas do Rio Grande do Sul.
Dados do NOAA registram que invasão começou na Flórida e se dirigiu ao norte, em razão das correntes marítimas. Acredita-se que o clima vai barrar o lionfish, que até então não se adaptou às latitudes mais altas. A preocupação maior aponta para o sul. Em 2005, conta Osmar Luiz, os primeiros peixes-leão foram vistos nas Bahamas. Depois República Dominicana, Jamaica, Cuba, Ilhas Caymam e Belize. “Além da rapidez com que vem se espalhando, outro fato é a grande densidade de indivíduos que estão sendo observados”, aponta Osmar Luiz. Já se estimaram a quantidade absurda de quase 400 exemplares de peixes-leão por hectare, nas Bahamas. “É cerca de cinco vezes a densidade que ele normalmente apresenta nos recifes do Mar Vermelho”, compara o pesquisador com o habitat clássico desse peixe recifal.

Ameaça à economia e à saúde
O peixe-leão gosta de 50 espécies de pequenos peixes e crustáceos, alguns de valor comercial. Ele pode mudar a oferta de lagostas, por exemplo, por competir com os alimentos desses crustáceos. No Caribe, já se registrou redução na população de peixes-papagaio. “Isso preocupa, porque o peixes-papagaio são herbívoros e tem a função de remover algas que competem com os corais por espaço”, aponta Osmar Luiz. Sem vida recifal, o equilíbrio ecológicos está afetado, alertam os biólogos que estudam a vida marinha e podem detalhar a importância dos recifes de corais na vida no mar. Sem alimentos, populações de lagostas e outras espécies comerciais também podem sofrer as consequências, temem os pescadores (de todos os tamanhos). Isso sem falar nas consequências para o turismo, entre as operadoras de mergulho (os recifes de corais é uma atração clássica, entre os praticantes da atividade).
Uma das reações à invasão, na América Central, foi a liberação da pesca do peixe-leão. O problema é esse peixe exuberante é da família dos Scorpaenidae, a qual pertencem os peixes mais venenosos do mundo. “Como o stonefish do Indo-Pacífico, que causa acidentes letais, e o nosso beatriz ou mangangá”, explica o professor Vidal Haddad Junior, doutor do departamento de Dermatologia e Radioterapia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, em Botucatu, São Paulo e especialista em animais e organismos marinhos peçonhentos.
O veneno do peixe-leão fica nos raios da nadadeira dorsal. Acidentes não são comuns entre as ilhas e continente banhados pelo Mar Vermelho, porque os nativos conhecem muito bem. “No Brasil registrei cinco ou seis acidentes no Instituto Butantan, obviamente em aquaristas”, aponta Vidal Haddad.
O veneno do peixe-leão causa dor intensa, vermelhidão, inchaço e por vezes, bolhas no local onde os raios penetram. “Pode ocorrer mal-estar, mas não mata. O acidente pelo nosso peixe-escorpião (conhecido como beatriz, no Nordeste) é mais grave”, esclarece Haddad. “O único tratamento disponível é mergulhar a mão em água quente, que melhora muito a dor”.

Fonte: O ECO

Nenhum comentário:

Postar um comentário